Em causa está o prémio de apuramento a esta fase a eliminar. De costas voltadas, os atletas denunciam falta de respeito da federação, esta que por sua vez pede bom-senso.
Texto: Redacção OC
Tudo começou no domingo, 22 de Janeiro, quando os Mambas decidiram tirar o dia de folga para apertarem a direcção da Federação Moçambicana de Futebol (FMF) acerca do prémio de qualificação aos quartos-de-final.
Na qualidade de capitães, Telinho e Isac de Carvalho foram a voz uníssona que abordou Jorge Bambo e Paíto Mucuana, ambos vice-presidentes da federação presentes na Argélia.
Na reunião havida, os atletas transmitiram aos dois dirigentes que já não concordavam com os 40 mil meticais de prémio previamente acordado pelo apuramento aos quartos-de-final.
Para eles já não fazia sentido que depois da histórica proeza maravilhosa a federação mantivesse aquele valor. Merecem mais. Transmitiram. Tipo 200 mil meticais – ou no mínimo 150 mil – por cada um dos personagens, seja ele principal ou figurante da película romântica gravada em solo magrebino.
Até porque, revelaram, “soubemos que a federação recebeu 400 mil dólares norte-americanos da Confederação Africana de Futebol (CAF) pela qualificação aos quartos-de-final. Porque não dividem connosco esse dinheiro?”, questionaram.
A conversa subiu de tom diante da insistência dos quadros da federação para a observância e cumprimento do que foi previamente estipulado e documentado, nomeadamente o pagamento dos 40 mil meticais pelo apuramento aos quartos-de-final.

“Queremos esse dinheiro [400 mil dólares] aqui, agora, antes dos quartos-de-final”, exigiram. Do contrário não iriam a jogo do próximo sábado (28). Advertiram.
Não houve acordo. E diante do aviso de mau tempo à navegação, os dois dirigentes prometeram levar a proposta para um fórum fechado da direcção executiva da federação, entretanto alargada a quadros da Secretaria de Estado do Desporto (SED) que integram a delegação nacional.
Mais tarde, ainda naquele domingo (22), Jorge Bambo voltou-se aos atletas com uma nova proposta: a de subir o prémio de apuramento dos anteriores 40 mil para 75 mil meticais significando, isso, 50% do que foi exigido pelos capitães.
O incremento ainda assim não convenceu os atletas que já neste segundo encontro trouxeram nova conversa para a mesa das negociações. “Nós estamos desde o ano passado aqui, distantes das nossas famílias, a trabalhar pela nação. Por isso pedimos que a federação respeite isso, como também o nosso trabalho que está a ser perfeito”, avançaram.
A federação explicou todavia que não tinha capacidade financeira para satisfazer ditas exigências, exortando o bom-senso aos atletas até porque, na Argélia, naquela competição competição, joga-se pelo País. De nome Moçambique. A famosa Pérola do Índico das cinco maravilhosas cores: únicas!
E sobre os 400 mil dólares? Jorge Bambo transmitiu aos atletas que a federação não tinha conhecimento de referenciada premiação. Que não havia informação oficial vinda da CAF e que não houve registo de nenhuma transação institucional nesse sentido. Pelo que, uma vez mais, não seria possível satisfazer a exigências dos atletas nestes termos.
Nada que convencesse os atletas, que insistiam em não ir a jogo caso não vissem satisfeitas as suas reivindicações.
Parte do prémio já nas contas dos atletas – garante a federação
Ao OC, Feizal Sidat confirmou o sucedido. Lamentou o sucedido e tranquilizou-nos: “vamos a jogo com o objectivo único de continuar a orgulhar o nosso País”.
Porque o apuramento aos quartos foi garantido no sábado, 21 de Janeiro, portanto em fim-de-semana, o presidente da FMF revelou que o pagamento dos prémios previamente acordados ocorreria na segunda-feira (23).
“Houve um incremento de 35 mil meticais, para 75 mil e neste momento posso garantir que já foram pagos 50 mil meticais do prémio de entrada aos quadros-de-final”, informou-nos Sidat, acrescendo que o valor remanescente será pago dentro de poucos dias tendo em conta a disponibilidade financeira da federação para o fazer. Admitiu não terem entrado 400 mil dólares da CAF nas contas da FMF, tal como acusam os atletas.

O que os Mambas já ganharam até aqui!
Para além dos 50 mil meticais que Sidat confirmou já terem sido pagos pela federação, OC está em condições de confirmar que cada um dos integrantes da delegação dos Mambas recebeu ainda esta segunda-feira (23) um bónus adicional ao per diem de 13 mil meticais, visto terão mais dias ainda em solo argelino.
Tal significa que, até aqui, cada um dos atletas presentes no CHAN2022 encaixou 278 mil meticais, de um total 303 de mil a que têm direito, assim repartidos: 150 mil de prémio de qualificação à prova, 65 mil de per diem na Argélia, o bónus adicional de 13 mil e os 50 mil da entrada aos quartos. Em falta estão os já referenciados 25 mil.
Viagem a Portugal estava programada. E é de trabalho!
Feizal Sidat viu a sua deslocação de Argélia a Portugal em combustão. Não foi bem vista pelos atletas, que acham que se tratou de abandono do dirigente diante das reivindicações dos atletas.
Mas ao OC Sidat explicou que a mesma já há muito estava programa como actividade da federação para este ano, no âmbito da criação da União das Federações de Futebol de Língua Portuguesa.
“Estou em Portugal a participar na criação deste organismo e na inauguração da sua sede, em representação da federação e, por conseguinte, de Moçambique. Estão presentes todos presidentes das federações de futebol da CPLP. Mas assim que esta actividade terminar regresso à Argélia para testemunhar, próximo sábado, mais um momento histórico dos nossos Mambas”, assegurou o chefe da FMF, sempre em conversa telefónica com OC.

Apesar da ocorrência, os Mambas realizaram esta segunda-feira (23) o primeiro treino e, já esta terça-feira (24), voltam a observar mais uma sessão tendo em vista o jogo diante do Madagáscar. [OC]